Carta aberta aos subversivos de Jesus



Alan Brizotti


Queridos amigos de indignação, paz!

Robinson Cavalcanti escreveu: "Um mundo novo é possível; uma igreja nova é imprescindível". Eis a ânsia que nos une. Resolvi escrever essa carta (e não a velocidade impessoal do e-mail e seu internetês) porque cartas despertam aquela nostalgia deliciosamente clássica que parece ter sumido dos nossos dias, também porque precisamos cada vez mais estarmos juntos. Nossa força vem do nosso abraço. Nossa unidade é o megafone que potencializa nosso grito.

Algumas pessoas insistem em questionar nosso criticismo (ao invés de questionar seu alvo), então respondo: criticamos não porque vivemos encarcerados numa espiritualidade azeda (ainda que alguns de nós assim estejam), mas porque somos parte do corpo (I Co. 12. 12-27), e o que dói no corpo afeta nossa alma. Criticamos porque não conseguimos olhar para o ambiente eclesiástico com uma irresponsabilidade tatuada de piedade e tolerância, mas sim com a inquietação aprendida do olhar de Jesus: "Vendo ele as multidões"; em Jesus, o olhar constrói.

Tenho percebido que nossas críticas produzem algumas feridas. Contudo, se Jesus Cristo é o "médico dos médicos", então, o melhor que temos a oferecer são justamente nossas feridas, principalmente quando são geradas pela adocicada fúria do amor: "Fiéis são as feridas feitas pelo que ama, mas os beijos do que odeia são enganosos" (Pv. 27. 6). Nossas feridas não matam, aliás, nem mesmo são feridas, são apenas paradoxos benditos: machucam para sarar.

Ouso fazer um apelo: amigos subversivos, jamais nos esqueçamos da essência da nossa subversão: a centralidade de Cristo acima das ideologias (II Co. 10. 5), a santidade de Deus (Is. 6. 1-7), a prática da oração (I Ts. 5. 17), a meditação nas Escrituras (Sl. 119. 101-106), o cuidado no discipulado que forma o caráter (II Tm. 2) e a afirmação da Cruz de Cristo (I Co. 1. 18). Esse é o nosso baluarte! Essa é a nossa gloriosa herança!

Por favor, meus amigos de gemido, nossa causa é a mais nobre de todas as causas: a luta pela regeneração da igreja! Não se trata de arrogância intelectualóide, mas de temor e tremor. Apenas captamos o chamado do Espírito e adestramos nossas fúrias, canalizando-as para a defesa fiel dos valores do Reino.

Aos empresários da fé, paipóstolos, malandros de púlpito, vagabundos da celestialidade bandida, um aviso: não vamos parar! O que nos une é a certeza feliz de que sempre tem alguém ouvindo e respondendo ao nosso grito!

Por uma igreja verdadeiramente Igreja...

O que é o Evangelho?



“Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na verdade, foram em vão. Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé? É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão” (Gálatas 3:1-9).
[...]
a. O que é o evangelho.
O evangelho é Cristo crucificado, sua obra consumada na cruz. E pregar o evangelho é apresentar Cristo publicamente como crucificado. O evangelho não é, antes de mais nada, as boas novas de um nenê na manjedoura, de um jovem numa banca de carpinteiro, de um pregador nos campos da Galiléia, ou mesmo de uma sepultura vazia. O evangelho trata de Cristo na cruz. O evangelho só é pregado quando Cristo é “publicamente exposto na sua cruz”. Esse verbo, prographein, significa “exibir ou representar publicamente, proclamar ou expor em um cartaz” (Arndt-Gingrich). Era usado em referência a editais, leis e notícias que eram expostos em algum lugar público para que fossem lidos, e também com referência a quadros e retratos.
Isso significa que, quando pregamos o evangelho, temos de nos referir a um acontecimento (a morte de Cristo na cruz), expor uma doutrina (o particípio perfeito “crucificado” indicando os efeitos permanentes da obra consumada de Cristo), e fazê-lo publicamente, ousadamente, vivamente, para que as pessoas vejam como se o testemunhassem com os seus próprios olhos. Isso é o que alguns autores têm chamado de elemento existencial da pregação. Fazemos mais do que descrever a cruz como um acontecimento do primeiro século. Na realidade descrevemos Cristo crucificado diante dos olhos de nossos contemporâneos, de modo que sejam confrontados com o Cristo crucificado hoje e percebam que podem receber hoje a salvação de Deus vinda da cruz.
b. O que o evangelho oferece.
Com base na cruz de Cristo, o evangelho oferece uma grande bênção. Versículo 8: “Em tu serão abençoados todos os povos”. O que é isso? É uma bênção dupla. A primeira parte é justificação (versículo 8) e a segunda é o dom do Espírito (versículos 2-5). É com esses dois dons que Deus abençoa a todos os que estão em Cristo. Ele nos justifica, aceitando-nos como justos diante dele, e coloca o seu Espírito em nós. E ainda mais, ele nunca oferece um dom sem dar o outro. Todos os que recebem o Espírito são justificados, e todos os que são justificados recebem o Espírito. É importante observar esta dupla bênção inicial, uma vez que atualmente muita gente ensina uma doutrina de salvação em dois estágios, que primeiros somos justificados e só posteriormente recebemos o Espírito.
c. O que o evangelho exige.
O evangelho oferece bênçãos; e nós, o que devemos fazer para recebê-las? A resposta adequada é “nada”! Não temos de fazer nada. Temos apenas de crer. Nossa reação não consiste nas “obras da lei”, mas em ouvir a “pregação da fé”, isto é, não em obedecer a lei, mas em crer no evangelho. Obedecer é tentar fazer a obra da salvação pessoalmente, enquanto que crer é deixar que Cristo seja o nosso Salvador e descansar em sua obra consumada. Assim Paulo enfatiza que recebemos o Espírito pela fé (versículos 2 e 5) e que somos justificados pela fé (versículo 8). Realmente, a palavra “fé” e o verbo “crer” aparecem seis vezes neste pequeno parágrafo (versículos 1-9).
Assim é o verdadeiro evangelho, o evangelho do Antigo e do Novo Testamento, o evangelho que o próprio Deus começou a pregar a Abraão (versículo 8) e que o apóstolo Paulo continuou pregando no seu tempo. É a apresentação, diante dos olhos dos homens, de Jesus Cristo como crucificado. Nessa base tanto a justificação como o dom do Espírito são oferecidos. E se exige apenas a fé.
Fonte: STOTT, John. A Mensagem de Gálatas. Editora ABU; pp. 69-71. 


A fogueira é a solução


Se eu tentar ser mais sincero,
a acidez das coisas que falo,
corroerá meus pensamentos,
essa corja de falsos,
mestres de si mesmos,
flores exalando podridão.

Cuspo em suas regras,
faço piadas sobre o que você crê,
crê sem viver,
finge viver, finge pra quê?
se nada conseguimos esconder.

Bonitos por fora, ocos por dentro,
sepulcro caiado, raça de víboras,
filhos da puta mentirosos,
que se fazem de vítimas,
crentes que conseguem enganar,
mentem pra própria consciência,
mas um dia sua hora vai chegar.

Espero que Jesus aceite cheque pré,
porque está precária a situação,
mal temos para o pão,
e o que mais importa eles deixaram pra lá,
eles estão ricos e eu não,
aparecem na tv falando de doação,
e eu odeio essa mentira,
odeio essa mentira,
um povo burro seguindo essa alienação.

Me perdoe Deus,
mas você é diferente do que falam de você,
até quando eles vencerão?
Me perdoe Deus,
mas não foi isso que você disse sobre ser cristão,
até quando eles enganarão?
Me perdoe Deus,
mas hoje estou puto demais pra me conter,
até quando eles vencerão?

Que comece a revolução,
que me queimem na fogueira como na inquisição,
mas não me renderei a esses filhos da puta,
mentirosos, cruéis e ladrões,
enganam a muitos, mas chegaram tarde,
eu percebi na cúpula toda a armação,
e a mim vocês nunca mais enganarão.

E como alguém que resgata um tesouro do lixo,
eu vivo o que prego,
e essa é a maior diferença entre ser o que você é,
e o que eu sou,
essa é a maior diferença entre ser crente e ser cristão.

A história se repete,
Lutero morreu em vão,
a igreja prostituta voltou,
agora completamente apaixonada pelo dinheiro,
poder, curas na televisão,
e com a audiência dos crente viciados em bençãos.

Me perdoe Deus,
me perdoe Lutero e outros grandes que fizeram parte da revolução,
me perdoe Paulo e seus náufragos, açoites e perseguições,
mas eles transformaram tudo em uma grande merda,
pra falar das coisas que convém,
e não mais da redenção,
Me perdoem todos, mas eu prefiro morrer na fogueira,
do que viver uma vida em vão.


"Meu querido Pai celestial, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus de todo consolo, graças te dou porque revelaste teu querido Filho Jesus Cristo, em quem eu creio, a quem eu tenha pregado e confessado, a quem eu tenho amado e enaltecido e a quem o papa desprezível e todos os ímpios desonram, perseguem e ofendem. Suplico-te, Senhor Jesus Cristo, que tomes conta de minha alma. Ó Pai celestial, se devo deixar este corpo e ser arrancado desta vida, tenha a absoluta certeza de que estarei eternamente em tua companhia e que ninguém me arrebatará de tuas mãos."
 
Por David (amigo fiel de longa data e de revolução)