Sou HEREGE assumido! E daí?


Hermes C. Fernandes


Quer mesmo saber? Sou herege! E digo isso com o peito cheio. Se quiser, pode me mandar pra fogueira agora mesmo. Estou pronto a morrer pela mensagem subversiva de que sou portador. Mesmo porque, não valeria a pena viver por algo pelo qual não se disponha a morrer.

Minha heresia?

Discordar do que tem sido feito em nome da ortodoxia.

Meu problema não é com a ortodoxia em si, mas com a práxis dos hipócritas que vivem o avesso do que afirmam crer. Eles me dão ânsia de vômito.

Por isso, resolvi chutar o balde e assumir de vez a postura de herege.

Eles pregam a divindade de Jesus, porém tratam-nO como se fosse um empregadinho. Chamam-No de Senhor, mas exigem que Se lhes submeta, atendendo às suas ordens, determinações e decretos.

Ensinam a divindade do Espírito Santo, mas ridicularizam-nO com manifestações bizarras que não temem atribuir a Ele.

Pregam a salvação pela graça, e em seguida exigem que seus seguidores façam sacrifícios complementares para assegurar-lhes a condição de salvos.

Pregam que Jesus está às portas, mas levantam campanhas milionárias para construir catedrais suntuosas ou adquirir aviões, em vez de pregar a esperança de dias melhores e contribuir para amenizar as injustiças sociais.

Ensinam a generosidade só para colocá-la à serviço de sua própria avareza.

Cansei de fundamentalismo barato, intelectualmente preguiçoso, e ideologicamente comprometido com os poderes deste mundo. Cristãos que preferem ladear os poderosos, e desprezar os miseráveis e excluídos. Denunciam a pretensão socialista de que o Estado ocupe o lugar de Deus, mas fazem vista grossa ao Estado Neo-liberal que se presta ao papel de Diabo.

Prefiro a isenção profética! Não quero aliar-me a qualquer que seja a ideologia, pois todas são inequivocadamente imperfeitas. Prefiro ser porta-voz do Reino, a ser defensor de agendas ideológicas. Marx não me convence! Mas não será Olavo de Carvalho que me converterá ao conservadorismo. Não me curvo ao Estado, mas também não me prostro ante o Capital. Ambos são potencialmente ídolos. Ambos exigem lealdade absoluta, coisa que só devo ao império de Cristo.

Livre comércio? Sim. Mas não ao custo da justiça. Justiça social? Sim. Mas não ao custo da liberdade. Por isso, não sou nem socialista, nem capitalista. Sou mesmo um reinista.

Por favor, não me rotulem. Não sou penteca, mas também não morro de amores pelo tradicionalismo mofado que só serve ao orgulho denominacional idiota. Eu já disse e repito: Sou reinista! Só devo lealdade ao Rei dos reis!

Crer na contemporaniedade dos dons não me faz carismático nem pentecostal; crer na soberania divina não me faz calvinista; apreciar arte sacra não me faz idólatra, e negar-me a ajoelhar-me ante a uma imagem não me torna iconoclasta. Crer na intervenção divina em atendimento às nossas preces também não me faz um neo-penteca.

Se insistirem em me taxar, prefiro que me chamem de herege. Pelo menos serei identificado com os injustiçados, vítimas dos sistemas opressores que se arrogam detentores da verdade absoluta. Prefiro isso a ser identificado com os que oprimem, e em cujas mãos estão acesas as tochas da intolerância, prontas a atear fogo nos discordantes e rebeldes.

Se reeditarem a santa inquisição, a maioria dos líderes que explora seus rebanhos ficará de fora. E sabe por quê? Porque são todos ortodoxos e dogmáticos. Todos têm em comum a crença no concepção virginal de Cristo, em Sua ressurreição ao terceiro dia, em Sua ascensão, na Criação em sete dias literais, etc. Nenhum deles pode ser acusado de heresia. Eles até poderiam escapar ilesos das chamas inquisitoriais, mas duvido que escapariam de outra chama!

Prefiro ser torrado nas fogueiras dos meus detratores a ter minha consciência chamuscada pela culpa, e minha alma alvejada pelas chamas do inferno.

Sou herege assumido, e que não for... que acenda a primeira tocha!



Heresia, do latim haerĕsis, por sua vez do grego αἵρεσις, "escolha" ou "opção"

FONTE: Genizah - Por: Hermes Fernandes
Assinado embaixo por: Milson Costa


TRANSFORMANDO A igreja EM IGREJA




“Eu não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os no teu nome, o qual me deste, para que eles sejam um, assim como nós... para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um; eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim”.
João 17.11,21-23

Penso que as igrejas evangélicas de um modo geral vivem uma grande inversão de valores. Valorizam o periférico não o que é central. Valorizam a quantidade negligenciando a qualidade. Valorizam os programas e não as pessoas. Aliás, a maioria das vezes – mesmo dentro de algumas igrejas - as pessoas são valorizadas pelo que têm, não pelo que são...

É interessante pensar que a mais de dois mil anos atrás, Jesus não tinha distrações com o periférico. Sabia o que devia fazer. Jesus não tinha preocupação com multidão, muito menos com programas. Jesus preocupava-se com pessoas. Jesus tinha propostas do Reino, guardadas até hoje em seu Evangelho.

Dentre as muitas que Ele oferece, tenho pensado muito em me tornar resposta à Sua oração. Tenho sentido o forte desejo de viver e experimentar a Teologia de João 17: SERMOS UM NO PAI. Para que desta maneira, o mundo conheça Quem nos enviou, e no nome de Quem falamos. Imagino que para isso:

1. Já é hora de pagarmos o preço, qualquer que seja ele, de fazer parte de uma Comunidade Espiritual, e não de uma organização eclesiástica. Não podemos permanecer o resto de nossas vidas satisfeitos com crentes “obesos de teorias” e vazios de ideais. Precisamos transformar nossa igreja (instituição) em igreja (Comunidade Espiritual).
2. Já é hora de virarmos as cadeiras uns para os outros, e de deixarmos de viver uma comunhão cristã leviana e insípida; onde, não há preocupações e cuidados verdadeiros. Onde o “querido irmão” é só mais um rosto que nos habituamos a ver aos domingos.
3. Já é tempo de edificarmos a igreja, e transforma-la numa comunidade de pessoas que se refugiam em Deus e encorajarmos uns aos outros a jamais fugirmos em busca de outros socorros.
4. Já é tempo de nos tornarmos a resposta da oração de Jesus, e fazermos assim diferença no mundo onde vivemos. Compartilhando em nossa comunidade (a igreja que congregamos) a unidade o Evangelho transformador de Jesus Cristo.

Sei que esta proposta não é fácil de ser vivida. Sei também que com ela estaremos caminhando na contra-mão do que temos visto em termos de igreja; onde o que vale é o “ativismo desvairado” ou o “evangelho que distrai”. Mas estou convicto que é esta proposta de Igreja que encontramos nas páginas de nossa Bíblia
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Milson Costa


É rir pra não Chorar...



"Cantar é também pensar”. Diferente do que rola por aí a fora. É claro que existem as exceções. Mas outro dia, o negócio foi muito cabuloso: O grupo de louvor começou a tocar e cantar: “incendeia Senhor a tua noiva, incendeia Senhor a tua Igreja...”. Em seguida cantaram a música “faz Chover”. Durante quase meia hora a mesma coisa: “faz chover, faz chover, faz chover...” Eu falei: - Agora vai sapecar tudo! Dito e feito. Adivinhem qual foi a próxima música? - “Eu não preciso ser reconhecido por ninguém”. A mesma que diz: “tua fumaça me esconde”. Não tinha como não relacionar com o efeito da chuva no fogo do incendeia.

Podia até ser cômico se o comportamento da turma não fosse também um reflexo do que a gente ouve e canta. E o pior é que tem muita gente assim. Gente nem queimada ou incendiada pelo “incendeia” e nem lavada pela chuva do “faz chover”, mas sapecada.

Não quero polemizar. Licença poética à parte, mas acredito que podemos ser mais coerentes acerca do que cantamos. Fico pensando nos "não crentes" que vão aos nossos cultos. Nós criamos um linguajar que só a gente entende. E às vezes nem a gente entende! A maioria já ouviu a união feminina cantar: “Quando cheguei aqui meu Senhor já estava, no meio da igreja ele passeava, quando eu cheguei aqui meu Senhor já estava..” Daí vem um irmão com aquele solo: “mas contempla esse varão que chegou agora abre a boca irmão e dê um glória...”. É confusão na certa! Eis a questão: - Já estava ou chegou agora?

Já aconteceu comigo também, numa dessas, rolando o “louvorzão”, eu lá na frente, nos primeiros assentos, e a banda tocando... Sei que mandavam a gente fazer um monte de coisa: Pé pra cá, pé pra lá, vem pra cá, vai pra lá, correm pra esquerda, correm pra direita, fala pra quem ta perto de você... E eu lá, todo tímido, quando ouvi, como que dito especificamente para mim: - Sai do chão, você é livre!!

Todo mundo vibrava e aplaudia. Eu não tenho problema com o agito (até gosto), mas só que nem sempre a igreja está sentindo o que o dirigente de música está sentindo naquele momento. Que fique claro a todos: Não vamos transformar ninguém, nem por força, nem por chavões e nem por "ginástica aeróbica gospel", mas é do Espírito de Deus, em nosso meio, este papel.

Foi muito bom ouvir naquele dia que eu sou livre, mas pergunto: - Por acaso somos livres, porque cantamos o que todo mundo está cantando? Somos livres porque fazemos os movimentos e gestos propostos pelos ministros de louvor? É possivel adorar a Deus em nossas igrejas, cantando, louvando, sem ter que de forçar um clima ? Sem ginástica gospel ? Sem caras e bocas? Ou está difícil?


Em Eliseu de Lima, divulgado no Genizah 

Silas e o Circo de Horrores do Ratinho
Assisti pelo Youtube à atuação do Pr. Silas Malafaia no programa do Ratinho recentemente. Como ele mesmo confessou, seu estilo é bem parecido com o do apresentador. Poderíamos até dizer que Silas é uma espécie de Ratinho Gospel.Não tem papa na língua e gosta de ver o circo pegar fogo.
O que achei? Sinceramente? Um desserviço à causa.

Primeiro: ali não era o lugar para se debater com seriedade um assunto tão complexo. A produção do Ratinho certamente escolheu Silas por saber de seu temperamento, ingrediente indispensável para um circo de horrores como o promovido pelo programa. Achei-o deselegante com sua oponente. Já tive a oportunidade de debater com ele várias vezes em duas emissoras no Rio de Janeiro. Ele não consegue se calar nem no intervalo. Sua fama foi construída em cima disso.

Apesar de polêmico (mais por seu temperamento do que por suas posições), Silas é extremamente conservador, e não consegue manter um diálogo em alto nível. Mas infelizmente é isso que o povão gosta.

Não consigo imaginar Jesus Se prestando a um papel desses. Jesus nunca bateu boca com ninguém. E Ele jamais participaria de uma campanha contra o direito de quem quer que fosse. O tipo de posicionamento defendido por Silas só faz aumentar o abismo entre a igreja evangélica e os homossexuais. Que vantagem há nisso? Como poderemos evangelizar um grupo contra o qual nos manifestamos? Em vez disso, deveríamos estar defendendo seus direitos, angariando sua simpatia e confiança, e assim, revelando-lhes o amor transformador do nosso Deus. Sem imposições, sem histeria, sem mania de perseguição, mas com mãos estendidas em vez de dedo à riste.


Quem, afinal, teria ganho aquele debate? É claro que a maioria do povo evangélico vai dizer que foi Slias. Mas sabe quem perdeu? Todos nós. Silas tornou-se numa referência caricata da igreja brasileira.

E o pior de tudo é que por trás de toda esta vociferação contra a PL 122 há uma não confessável intenção política. Os políticos evangélicos (que até agora não mostraram a que vieram!) precisam garantir a próxima eleição. Nada melhor do que tocar terror no povo, usando o tal projeto de lei como o carro abre-alas.

Essa estória de que as igrejas serão obrigadas a casar gays é conversa fiada. O mesmo projeto de lei é contrário a qualquer tipo de discriminação religiosa. Pode-se "condenar" a pobreza sem com isso discriminar o pobre. Pode-se "condenar" o alcoolismo sem discriminar o alcoólico. O mesmo se aplica aos homossexuais. Se um determinado credo reprova o comportamento homossexual, não quer dizer que seus seguidores discriminem homossexuais.

Que vergonha... deveríamos estar do lado deles, condenando a homofobia, e assim, escancarando a porta para que tivéssemos acesso aos seus corações. Em vez disso, colocamo-nos ao lado de seus algozes. A igreja cristã que produziu homens como Martin Luther King, Jr. que defendeu com o preço de sua própria vida os direitos civis, agora produz homens intolerantes que almejam, em nome de um projeto político, conduzir a igreja de volta à idade das trevas. Foi este tipo de posicionamento intolerante que provocou a morte das bruxas de Salém, a Inquisição, o Apartheid.

Infelizmente, nosso povo tem memória curta. Semanas atrás, todos repudiavam a teologia da prosperidade pregada por Silas ao lado de seu mentor Morris Cerullo. Agora, por uma causa com motivações duvidosas, Silas voltou a ser quase unanimidade entre os evangélicos.

Espero que o povo de bom-senso acorde para isso, reveja seus conceitos, e se posicione contrário a qualquer tipo de manipulação.