Jacques Ellul
Fé e Crença (parte 1)
De um único verbo, crer, originam-se dois substantivos que representam ações radicalmente opostas: crença e fé. Porém quando quero usar uma forma verbal para expressar a minha fé tenho ainda de usar crer, a não ser que escolha uma fórmula ainda pior, ter fé.
A crença provê respostas a nossas perguntas, a fé nunca o faz. Cremos para encontrar segurança, solução, uma resposta para os nossos questionamentos. As pessoas crêem para desenvolverem para si um sistema de crenças. A fé (a fé bíblica) é completamente diferente. O propósito da revelação é fazer com que ouçamos as perguntas, e não suprir-nos com explicações.
A fé é, em primeira instância, ouvir, como Barth tão freqüentemente nos faz lembrar. A crença fala e fala, atola-se em palavras, interpola os deuses, toma a iniciativa. A fé requer um posicionamento inteiramente oposto: a fé espera, permanece atenta, colhe sinais, sabe o que fazer das parábolas mais delicadas; ela ouve pacientemente o silêncio até que o silêncio seja preenchido pelo que ela toma sendo a inquestionável palavra de Deus, palavra da qual se apropria.
A FÉ PRESSUPÕE A DÚVIDA, A CRENÇA EXCLUI A DÚVIDA.
A fé isola o indivíduo; a crença, (qualquer que seja, inclusive a cristã) ajunta pessoas. Na crença nos vemos unidos a outros na mesma corrente institucional, todos orientados em direção ao mesmo objeto de crença, compartilhando das mesmas idéias, seguindo os mesmos rituais, arrolados na mesma organização, quer seja religiosa ou social, falando o mesmo dialeto. A crença age como apaziguadora na sociedade, ela é a chave para o consenso que buscamos, o definitivo e há muito proclamado como necessário elemento essencial da vida comunal. A fé sempre trabalha de maneira exatamente oposta. A fé individualiza; ela é sempre e exclusivamente uma questão pessoal. Fé é o relacionamento pessoal com um Deus que se revela como uma pessoa. Esse Deus singulariza a pessoa, coloca-a à parte, e confere a cada pessoa uma identidade que não é comparável à de nenhuma outra. A pessoa que ouve a palavra de Deus é a única a ouvi-la; neste ato ela está separada das outras pessoas, e nele ela torna-se única – simplesmente porque o elo que liga esse indivíduo a Deus é único, exclusivo e inviolável. Trata-se de um relacionamento singular com um Deus único e absolutamente incomparável.
Deus particulariza, singulariza a pessoa a quem ele diz “eu te chamo pelo teu nome” (Isaías 45.4). A fé separa cada pessoa das demais e faz única cada uma delas. Na Bíblia a palavra santo significa separado, à parte. Ser santo é ser separado de todos os outros, é ser único em razão da tarefa que não pode ser desempenhada por nenhuma outra pessoa, tarefa que se recebe pela fé.
OS CRENTES ENCONTRAM ENCORAJAMENTO E CERTEZA NA PRESENÇA DE OUTROS, E TÊM O SEU VAZIO EXISTENCIAL PREENCHIDO PELA VIDA COMUNITÁRIA.
A fé pressupõe a dúvida, a crença exclui a dúvida. A fé não é o oposto da dúvida, a crença é. Os soldados da crença agem sem questionamento de acordo com a lei e os mandamentos. São inflexíveis nas suas convicções, não toleram a qualquer desvio. Na articulação de sua crença eles imprimem rigor e absolutismo ao extremo. Refinam incessantemente a expressão da sua crença e buscam dar a ela uma formulação intelectual específica num sistema tão coerente e completo quanto possível. Insistem na completa ortodoxia. Codificam rigidamente modos de pensar e de agir. Isso leva a um elevado grau de eficiência; o crente é uma pessoa que faz o que precisa ser feito, mas toda a sua atividade é, no fundo, vazia. Os crentes tem uma realidade própria tão pequena que só são capazes de viver e expressar essa realidade dentro de uma unidade convencionalmente estabelecida. São gente de ajuntamentos. Os crentes encontram encorajamento e certeza na presença de outros, dependem da certeza de que esses outros realmente acreditam, e assim têm o seu vazio existencial preenchido pela vida comunitária. Multiplicar o número de liturgias, compromissos e atividades dá aos crentes a completa satisfação; rodeados por isso tudo eles não tem necessidade de questionar a verdade ou realidade da sua própria crença: a atividade os mantém ocupados.

Extraído de Fé Viva: Crença e Dúvida num Mundo Perigoso. San Francisco: Harper and Row, Publishers, 1983.

A Lei Crua do Amor. X Lei Distributiva do Amor.



Este é um mundo de retribuição, em que ninguém ama quem não tem nada a oferecer. Quem são nossos favoritos? Os notáveis, os talentosos, os destacados, os fluentes, os bonitos, os ricos, os famosos, os sábios, os espirituais, os afinados, os inteligentes, os que lembram-se do nosso nome. Quanto mais admiráveis nos parecerem as qualidades de alguém, mais naturalmente — mais inevitavelmente — essa pessoa parecerá merecedora do nosso amor.
Nossa tendência mais natural é amarmos as pessoas pelo que são capazes de fazer, seja essa capacidade efetiva ou potencial. Nisso consiste o que chamo de Lei Crua do Amor: não amamos as pessoas, amamos as suas competências.
Com raras exceções, a Lei Crua do Amor rege todos os nossos relacionamentos e afeições. Sei muito bem aqueles que me sinto tentado a amar: os virtuosos, os compassivos, os articulados, os bonitos, os fluentes, os criativos, os destemidos, os galantes, os que sabem dançar, os indomáveis, os modestos, os heróis que não conhecem o seu próprio valor. São essas as competências que estão no topo da minha lista, mas cada pessoa estabelece o seu próprio critério de seleção. O que temos todos em comum é a tendência de amar aqueles que demonstram ter as competências que admiramos.

A Lei Crua do Amor determina ainda o modo como estimamos onosso próprio papel num relacionamento — nosso valor. É por isso que tememos tanto a doença e a velhice, porque sabemos que estão à espreita, esperando o momento de arrancar de nós as competências que nos são mais caras, aquelas ao redor das quais construímos nossa identidade. Os primeiros sinais bastarão para nos colocar em parafuso: a primeira falha de memória, a primeira barbeiragem no trânsito, a primeira incontinência urinária, a primeira desafinada, a primeira queda de cabelo.
Por que tememos dessa forma a perda das nossas competências? Acontece que sabemos muito bem que as competências dos outros determinam em grande parte nossa afeição por eles. Intuímos, pela natureza inclemente dos nossos próprios critérios, que a perda de uma competência fará com que nos tornemos menos atraentes e menos dignos de amor aos olhos dos outros.
Aqueles que não têm alguma competência para oferecer — os feios, os desajeitados, os que não sabem cantar, os que não sabem falar, os que não sabem escrever, os que não sabem jogar bola, os que não sabem agradar — intuem, por sua vez, que nunca serão amados de forma unânime e intensa como os notáveis. Não têm competências em grau ou quantidade suficientes para merecerem o nosso amor, e sabem disso.
Jesus viveu, naturalmente, para denunciar a Lei Crua do Amor. Ele convidava, de forma singela, a que adotássemos um novo e notável critério, que é, incrivelmente, a ausência de qualquer critério.
A mensagem de Jesus deixa claro, em primeiro lugar, que na perspectiva de Deus, na perspectiva do universo, as competências que tanto celebramos e redundantemente admiramos equivalem a precisamente nada — talvez menos. Se Deus fosse premiar a competência não premiaria ninguém. É por isso, por não julgar as pessoas pelas competências que têm para oferecer, que Deus faz chover sobre justos e injustos. É com base no rigoroso critério do critério algum que ele derrama do seu sol sobre heróis e marginais.
Jesus opina que na perspectiva divina a única competência que de fato conta é a competência moral, a capacidade de não fazermos o mal aos outros e a habilidade correspondente de fazermos o bem a eles. Todo o resto é acessório e deve ser descartado do nosso caderninho de admirações. Deus, no entanto, conhece-nos o bastante para não decidir julgar-nos nem mesmo por essa competência essencial. Na verdade, explica Jesus, a mais contundente demonstração de competência moral está precisamente na nossa disposição em amar os outros, e assim o círculo se fecha.
O Filho do Homem desafia-nos a sermos nisso singulares (santos) como Deus é, disparando amor arbitrariamente, como metralhadoras, abandonando definitivamente os critérios usuais de competência. Essa regra divina é a Lei Distributiva do Amor, que pode ser expressa desta forma: ninguém merece, por isso todos podem ter.

Quem será capaz de sentir-se atraído pelos que não têm coisa alguma para oferecer? Quem será capaz de aceitar os desprovidos de competências? Talvez aquele que desperte para a consciência de que tem o que não merece; esse ousará, quem sabe, distribuir.
Esse estará alterando a tessitura do mundo.

Retirado em grande parte da versão OnLine da Revista Ultimato

Ex«Dependente de Igreja




Preciso confessar que durante anos fui consumidor de igreja. Durante anos fui dependente de igreja e trafiquei na sua produção.
Devo confessar o mais grave, que durante esses anos abracei a crença (em nenhum momento abalizada pela Escritura ou pelo bom senso) que identificava a qualidade da minha fé com minha participação nas atividades – ao mesmo tempo inofensivas, bem-intencionadas e auto-centradas – de determinada agremiação. Em retrospecto continuo crendo em mais ou menos tudo que cria naquela época, porém essa crença confortante e peculiar (espiritualidade = participação na igreja institucional) fui obrigado contra a vontade, contra minha inclinação e contra a força do hábito, a abandonar.
Preciso deixar claro que não guardo daqueles anos qualquer rancor; de fato não trago deles nenhuma recordação que não esteja envolta em mantos de nostalgia e carinho. Ao contrário de alguns, não sinto de forma alguma ter sido abusado pela igreja institucional; sinto, ao invés disso, como se tivesse sido eu a abusar dela. Minha impressão clara não é ter sido prejudicado pela igreja, mas de tê-la usado de forma contínua e consistente para satisfazer meus próprios apetites – apetites por segurança, atenção, glória, entretenimento, aceitação.
Se hoje encaro aqueles dias como uma forma de dependência é porque acabei aceitando o fato de que a igreja como é experimentada – o conjunto de coisas, lugares, atividades e expectativas para as quais reservamos o nome genérico de igreja – representam um sistema de consumo como qualquer outro. As pessoas consomem igreja não apenas da forma que um dependente consome cocaína, mas da forma que adolescentes consomem telefones celulares e celebridades consomem atenção – isto é, com candura, com avidez, mas muitas vezes para o seu próprio prejuízo.
Todo sistema de consumo confere alguma legitimação, isto é fornece ao consumidor pequenas seguranças e pequenas premiações que fazem com que ele se sinta bem, sinta-se uma pessoa melhor (ou em condições privilegiadas) por estar desfrutando de um produto ou serviço de que – e isto é importante na lógica interna da coisa – não são todos que desfrutam.
As igrejas institucionais, por mais bem-intencionadas que sejam (e, creia-me, há muito mais gente bem-intencionada envolvida na criação e na sustentação delas do que seria de se supor) funcionam precisamente dessa maneira. Não é a toa que tanto a palavra quanto o conceito propaganda nasceram, historicamente falando, nos salões eclesiásticos. Se hoje há shopping centers e roupas de marca é porque a igreja inventou o conceito de propaganda e de consumo de massa. Foi a igreja a primeira a vender a idéia de que vestir determinada camisa e ser visto em determinada companhia demonstram eficazmente o seu valor como pessoa; foi a primeira a promover a noção simples (mas cujo tremendo poder as corporações acabaram descobrindo) de que o que você consome mostra que tipo de pessoa você é.
As pessoas que consomem igreja não têm em geral qualquer consciência de que estão se dobrando a um sistema de consumo, mas as evidências estão ali para quem quiser ver. A igreja não é um lugar a que se vai ou um grupo de pessoas que se abraça, mas uma marca que se veste, um produto que se consome continuamente. Tudo de bom que costumamos dizer sobre a igreja reflete, secretamente, essa nossa obsessão com o consumo – “o louvor foi uma benção”, “o sermão foi profundo”, “o coro cantou com perfeição”, “a palavra atingiu os corações”, “Deus falou comigo”. Em outra palavras, tudo que temos a dizer sobre a experiência da igreja são slogans. Na qualidade de consumidores, o que fazemos é retroalimentar nossa dependência, promovendo continuamente nosso produto na esperança de angariar mais consumidores e portanto mais legitimação.
O curioso, o verdadeiramente paradoxal, é que nada nesse sistema circular de consumo (ou em qualquer outro) tem qualquer relação com espiritualidade, com fé ou com a herança de Jesus. Ao contrário, sabemos ao certo que Jesus e os apóstolos bateram-se até a morte no esforço de demolir a tendência muito humana de encarcerar (isto é, satisfazer) os anseios emocionais e espirituais das pessoas em sistemas de consumo e legitimação (isto é, sistemas de controle).
O russo Leo Tolstoi acreditava que, diante da suprema singeleza do ensino de Jesus, levantar (e em seu nome!) uma máquina implacável e arbitrária como a igreja equivalia a restaurar o inferno depois que Jesus tornou o inferno obsoleto. De minha parte, vejo a igreja institucional como um refúgio construído por mãos humanas para nos proteger das terríveis liberdades e responsalidades dadas por Deus a cada mortal e que Jesus desempenhou de modo tão espetacular. Por outro lado, talvez esse refúgio seja ele mesmo o inferno.
No fim das contas você não encontrará na igreja nada que não seja inteiramente atraente e desejável, e aqui está grande parte do problema. Vá a um templo evangélico no domingo de manhã e o que vai encontrar é gente amável, respeitável, ordeira, de banho tomado, sorridente, perfumada e usando suas melhores roupas – e é preciso reconhecer que há um público para esse tipo irresistível de companhia. O bom-mocismo reinante é tamanho, na verdade, que não resta praticamente coisa alguma do escândalo inicial do evangelho. Enquanto descansamos nesse abraço comum a verdadeira igreja, onde estiver (e talvez exista apenas no futuro), estará por certo mais próxima do dono do bar, da vendedora de jogo do bicho, do travesti exausto da esquina, do divorciado com seu laptop, dos velhinhos que babam em desamparo e das crianças que alguém deixou para trás. Certamente não usará gravata e não terá orçamento anual nem endereço fixo.
Portanto nada tenho contra aquilo que a igreja diz, que é em muitos sentidos bom e justo, mas não tenho como continuar endossando aquilo que a igreja dá a entender – sua mensagem subliminar, por assim dizer, mas que fala muitas vezes mais alto do que qualquer outra voz. Com o discurso eclesiástico oficial eu poderia conviver indefinidamente (como de fato já fiz), mas seu meio é na verdade sua mensagem, e frequentar uma igreja é dar a entender:
1. Que aquela facção da igreja é de algum modo mais notável, e portanto mais legítima, do que todas as outras;
2. Que o modo genuíno de se exercer o cristianismo é estar presente nas reuniões regulares e demais atividades de determinada agremiação, ou seja, que a devoção é uma espécie de prêmio de assiduidade;
3. Que o conteúdo da crença é mais importante do que o desafio da fé;
4. Que o caminho do afastamento do mundo, segundo o exemplo de João Batista, é mais digno de imitação do que o caminho do envolvimento com o mundo, segundo a vida de Jesus;
5. Que o modo de vida baseado na busca circular pela legitimação é mais respeitável do que o das pessoas que conseguem viver sem recorrer a esses refrigérios;
6. Que o modo adequado de honrar a herança de Jesus é dançar em celebração ao redor do seu nome, ignorando em grande parte o que ele fez e diz.
Está confirmada, portanto, a ambivalência da minha posição em relação à igreja institucional. Por um lado, sinto falta dos seus confortos; por esse mesmo lado, respeito a inegável riqueza de sua herança cultural, que não gostaria de ver de modo algum apagada. Por outro lado, ressinto-me de que o nome singular de Jesus permaneça associado a um monstro burocrático no que tem de mais inofensivo e opressor no que tem de mais perverso, quando sua vida foi a de um matador de dragões dessa precisa natureza. Dito de outra forma, não tenho como condenar a permanência de alguma manifestação da igreja, mas não tenho como justificá-lo se você faz parte de uma.

Retirado em grande parte da versão OnLine da Revista Ultimato (Paulo Brabo)

O QUE É A IGREJA?


– O que é “a Igreja”? – perguntou Belzebu severamente, relutando em acreditar que seus servos fossem mais espertos do que ele.
– Bom, quando uma pessoa diz uma mentira e teme que não vão acreditar nela, chama sempre Deus por testemunha, e diz: “Por Deus, estou dizendo a verdade!” Isso, em essência, é “a Igreja”, porém com uma peculiaridade: aqueles que reconhecem a si mesmos como sendo “a Igreja” acabam convencidos de que são incapazes de errar, e portanto qualquer besteira que proferem não podem nunca refutar. A Igreja é constituída da seguinte forma: homens asseguram a si mesmos e a outros de que seu mestre, Deus, a fim de assegurar que a lei que revelou aos homens não seja mal interpretada, deu poder a determinados homens que, juntamente com aqueles a quem transferem esse poder, são os únicos capazes de interpretar corretamente o ensino dele. Assim esses homens, que chamam a si mesmos de “Igreja”, consideram-se defensores da verdade não porque pregam o que é verdadeiro, mas porque se consideram os únicos verdadeiros sucessores dos discípulos dos discípulos dos discípulos, até os discípulos do próprio mestre, Deus. Embora esse método, como o dos milagres, tenha a desvantagem de que as pessoas possam afirmar simultaneamente, cada uma por si mesma, serem membros da única Igreja verdadeira (como de fato sempre acontece), tem a vantagem de que tão logo os homens declaram que são a Igreja e desenvolvem sua doutrina com base nessa afirmação, não podem mais renunciar ao que já disseram, por mais absurdo que seja, não importa o que digam as outras pessoas.

– Mas por que a Igreja distorceu o ensino em nosso favor? – perguntou Belzebu.
– Fizeram isso – prosseguiu o diabo de capa – porque uma vez tendo se declarado os únicos expositores legítimos da lei de Deus, e tendo persuadido os outros disso, tornaram-se os árbitros máximos do destino dos homens e obtiveram portanto o poder máximo. Tendo obtido este poder, ficaram naturalmente orgulhosos e, em sua maior parte, depravados, e deste modo provocaram a indignação e a inimizade de outros contra eles mesmos. E na sua luta contra esses inimigos, não tendo outros meios além de violência, começaram a perseguir, executar e queimar na fogueira todos que não reconheciam a sua autoridade. Portanto a própria posição deles obrigava-os a distorcer o ensino, de modo a justificar tanto suas vidas perversas quanto a crueldade empregada contra os seus inimigos. E foi exatamente isso que fizeram.

Given to Fly (Capaz de Voar)




Ele poderia ter se acertado, acertado, mas ele não se acertou
Tempos difíceis, nada poderia salvá-lo
Sozinho num corredor, esperando, trancado
Ele saiu de lá, correu por centenas de milhas
Foi até o oceano
Fumou em uma árvore
O vento se levantou, colocando-o de joelhos
Uma onda surgiu quebrando como um murro no queixo
Entregando-lhe asas, "Ei, olhe para mim agora..."
Braços bem abertos tendo o mar como chão


Ele está.. voando!
Inteiro!


Ele flutuou de volta para baixo porque queria compartilhar
sua chave para os cadeados nas correntes que ele viu em toda parte
Mas primeiro ele foi despido, e então foi ofendido
Por homens descarados, bem... Ele ainda está de pé.
E ele ainda entrega seu amor, ele simplesmente o entrega
O amor que ele recebe é o amor que está salvo
E às vezes é visto um ponto estranho no céu
Um ser humano que é capaz de voar

Given to FLy by Pearl jam - http://www.youtube.com/watch?v=-C2NiI4I4VE


Carta aberta aos subversivos de Jesus



Alan Brizotti


Queridos amigos de indignação, paz!

Robinson Cavalcanti escreveu: "Um mundo novo é possível; uma igreja nova é imprescindível". Eis a ânsia que nos une. Resolvi escrever essa carta (e não a velocidade impessoal do e-mail e seu internetês) porque cartas despertam aquela nostalgia deliciosamente clássica que parece ter sumido dos nossos dias, também porque precisamos cada vez mais estarmos juntos. Nossa força vem do nosso abraço. Nossa unidade é o megafone que potencializa nosso grito.

Algumas pessoas insistem em questionar nosso criticismo (ao invés de questionar seu alvo), então respondo: criticamos não porque vivemos encarcerados numa espiritualidade azeda (ainda que alguns de nós assim estejam), mas porque somos parte do corpo (I Co. 12. 12-27), e o que dói no corpo afeta nossa alma. Criticamos porque não conseguimos olhar para o ambiente eclesiástico com uma irresponsabilidade tatuada de piedade e tolerância, mas sim com a inquietação aprendida do olhar de Jesus: "Vendo ele as multidões"; em Jesus, o olhar constrói.

Tenho percebido que nossas críticas produzem algumas feridas. Contudo, se Jesus Cristo é o "médico dos médicos", então, o melhor que temos a oferecer são justamente nossas feridas, principalmente quando são geradas pela adocicada fúria do amor: "Fiéis são as feridas feitas pelo que ama, mas os beijos do que odeia são enganosos" (Pv. 27. 6). Nossas feridas não matam, aliás, nem mesmo são feridas, são apenas paradoxos benditos: machucam para sarar.

Ouso fazer um apelo: amigos subversivos, jamais nos esqueçamos da essência da nossa subversão: a centralidade de Cristo acima das ideologias (II Co. 10. 5), a santidade de Deus (Is. 6. 1-7), a prática da oração (I Ts. 5. 17), a meditação nas Escrituras (Sl. 119. 101-106), o cuidado no discipulado que forma o caráter (II Tm. 2) e a afirmação da Cruz de Cristo (I Co. 1. 18). Esse é o nosso baluarte! Essa é a nossa gloriosa herança!

Por favor, meus amigos de gemido, nossa causa é a mais nobre de todas as causas: a luta pela regeneração da igreja! Não se trata de arrogância intelectualóide, mas de temor e tremor. Apenas captamos o chamado do Espírito e adestramos nossas fúrias, canalizando-as para a defesa fiel dos valores do Reino.

Aos empresários da fé, paipóstolos, malandros de púlpito, vagabundos da celestialidade bandida, um aviso: não vamos parar! O que nos une é a certeza feliz de que sempre tem alguém ouvindo e respondendo ao nosso grito!

Por uma igreja verdadeiramente Igreja...

O que é o Evangelho?



“Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na verdade, foram em vão. Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé? É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão” (Gálatas 3:1-9).
[...]
a. O que é o evangelho.
O evangelho é Cristo crucificado, sua obra consumada na cruz. E pregar o evangelho é apresentar Cristo publicamente como crucificado. O evangelho não é, antes de mais nada, as boas novas de um nenê na manjedoura, de um jovem numa banca de carpinteiro, de um pregador nos campos da Galiléia, ou mesmo de uma sepultura vazia. O evangelho trata de Cristo na cruz. O evangelho só é pregado quando Cristo é “publicamente exposto na sua cruz”. Esse verbo, prographein, significa “exibir ou representar publicamente, proclamar ou expor em um cartaz” (Arndt-Gingrich). Era usado em referência a editais, leis e notícias que eram expostos em algum lugar público para que fossem lidos, e também com referência a quadros e retratos.
Isso significa que, quando pregamos o evangelho, temos de nos referir a um acontecimento (a morte de Cristo na cruz), expor uma doutrina (o particípio perfeito “crucificado” indicando os efeitos permanentes da obra consumada de Cristo), e fazê-lo publicamente, ousadamente, vivamente, para que as pessoas vejam como se o testemunhassem com os seus próprios olhos. Isso é o que alguns autores têm chamado de elemento existencial da pregação. Fazemos mais do que descrever a cruz como um acontecimento do primeiro século. Na realidade descrevemos Cristo crucificado diante dos olhos de nossos contemporâneos, de modo que sejam confrontados com o Cristo crucificado hoje e percebam que podem receber hoje a salvação de Deus vinda da cruz.
b. O que o evangelho oferece.
Com base na cruz de Cristo, o evangelho oferece uma grande bênção. Versículo 8: “Em tu serão abençoados todos os povos”. O que é isso? É uma bênção dupla. A primeira parte é justificação (versículo 8) e a segunda é o dom do Espírito (versículos 2-5). É com esses dois dons que Deus abençoa a todos os que estão em Cristo. Ele nos justifica, aceitando-nos como justos diante dele, e coloca o seu Espírito em nós. E ainda mais, ele nunca oferece um dom sem dar o outro. Todos os que recebem o Espírito são justificados, e todos os que são justificados recebem o Espírito. É importante observar esta dupla bênção inicial, uma vez que atualmente muita gente ensina uma doutrina de salvação em dois estágios, que primeiros somos justificados e só posteriormente recebemos o Espírito.
c. O que o evangelho exige.
O evangelho oferece bênçãos; e nós, o que devemos fazer para recebê-las? A resposta adequada é “nada”! Não temos de fazer nada. Temos apenas de crer. Nossa reação não consiste nas “obras da lei”, mas em ouvir a “pregação da fé”, isto é, não em obedecer a lei, mas em crer no evangelho. Obedecer é tentar fazer a obra da salvação pessoalmente, enquanto que crer é deixar que Cristo seja o nosso Salvador e descansar em sua obra consumada. Assim Paulo enfatiza que recebemos o Espírito pela fé (versículos 2 e 5) e que somos justificados pela fé (versículo 8). Realmente, a palavra “fé” e o verbo “crer” aparecem seis vezes neste pequeno parágrafo (versículos 1-9).
Assim é o verdadeiro evangelho, o evangelho do Antigo e do Novo Testamento, o evangelho que o próprio Deus começou a pregar a Abraão (versículo 8) e que o apóstolo Paulo continuou pregando no seu tempo. É a apresentação, diante dos olhos dos homens, de Jesus Cristo como crucificado. Nessa base tanto a justificação como o dom do Espírito são oferecidos. E se exige apenas a fé.
Fonte: STOTT, John. A Mensagem de Gálatas. Editora ABU; pp. 69-71. 


A fogueira é a solução


Se eu tentar ser mais sincero,
a acidez das coisas que falo,
corroerá meus pensamentos,
essa corja de falsos,
mestres de si mesmos,
flores exalando podridão.

Cuspo em suas regras,
faço piadas sobre o que você crê,
crê sem viver,
finge viver, finge pra quê?
se nada conseguimos esconder.

Bonitos por fora, ocos por dentro,
sepulcro caiado, raça de víboras,
filhos da puta mentirosos,
que se fazem de vítimas,
crentes que conseguem enganar,
mentem pra própria consciência,
mas um dia sua hora vai chegar.

Espero que Jesus aceite cheque pré,
porque está precária a situação,
mal temos para o pão,
e o que mais importa eles deixaram pra lá,
eles estão ricos e eu não,
aparecem na tv falando de doação,
e eu odeio essa mentira,
odeio essa mentira,
um povo burro seguindo essa alienação.

Me perdoe Deus,
mas você é diferente do que falam de você,
até quando eles vencerão?
Me perdoe Deus,
mas não foi isso que você disse sobre ser cristão,
até quando eles enganarão?
Me perdoe Deus,
mas hoje estou puto demais pra me conter,
até quando eles vencerão?

Que comece a revolução,
que me queimem na fogueira como na inquisição,
mas não me renderei a esses filhos da puta,
mentirosos, cruéis e ladrões,
enganam a muitos, mas chegaram tarde,
eu percebi na cúpula toda a armação,
e a mim vocês nunca mais enganarão.

E como alguém que resgata um tesouro do lixo,
eu vivo o que prego,
e essa é a maior diferença entre ser o que você é,
e o que eu sou,
essa é a maior diferença entre ser crente e ser cristão.

A história se repete,
Lutero morreu em vão,
a igreja prostituta voltou,
agora completamente apaixonada pelo dinheiro,
poder, curas na televisão,
e com a audiência dos crente viciados em bençãos.

Me perdoe Deus,
me perdoe Lutero e outros grandes que fizeram parte da revolução,
me perdoe Paulo e seus náufragos, açoites e perseguições,
mas eles transformaram tudo em uma grande merda,
pra falar das coisas que convém,
e não mais da redenção,
Me perdoem todos, mas eu prefiro morrer na fogueira,
do que viver uma vida em vão.


"Meu querido Pai celestial, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus de todo consolo, graças te dou porque revelaste teu querido Filho Jesus Cristo, em quem eu creio, a quem eu tenha pregado e confessado, a quem eu tenho amado e enaltecido e a quem o papa desprezível e todos os ímpios desonram, perseguem e ofendem. Suplico-te, Senhor Jesus Cristo, que tomes conta de minha alma. Ó Pai celestial, se devo deixar este corpo e ser arrancado desta vida, tenha a absoluta certeza de que estarei eternamente em tua companhia e que ninguém me arrebatará de tuas mãos."
 
Por David (amigo fiel de longa data e de revolução)

Eu amo um Homossexual...



Sim, eu amo um homossexual, aliás, não é apenas um, são vários, talvez muitos, ou mesmo todos, amo ateus, amo uns budistas, uns muçulmanos, uns malucos drogados, a garotinha do funk, o cara que me roubou semana passada, amo o casal que mora junto sem ao menos serem casados, amo todos e tanto…
Sim, eu os amo, os amo porque decidi amar, os amo porque o mesmo que morreu por mim, morreu por todos eles, os amo porque eles são pessoas, pessoas imperfeitas como eu, pessoas que sentem como eu, pessoas que pensam que choram, que amam, que se alegram, que se divertem, como eu. Sim, eu os amo!
Os amos por um simples motivo, porque Deus os amou primeiro, pois antes de tudo Deus os viu mesmo informe e os escolheu, e o mesmo mundo que rejeitou o JESUS, MESSIAS, REDENTOR, rejeitou também a esses, rejeitou o tamanho sacrifício que ELE fez por amor a TODOS, pois ELE nos amou. Isso é incrível, ELE nos amou mesmo com todas as imperfeições, com todas as falhas, com todos os erros, ELE nos AMOU, ELE simplesmente nos amou!
Se ELE não os rejeitou porque VOCÊ os rejeitaria?
“Porque Deus AMOU o mundo de TAL MANEIRA, que deu seu filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça mais tenha a vida eterna.” (João 3:16)
“vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu, e que para com ele não há acepção de pessoas.” (Efésios 6:9)

Show do Milhão!!






A maioria não irá entender...

Mas o principal sentimento que me veio ao assistir o espetáculo deprimente capitaneado por Silas Malafaia e Mike Murdock foi de alívio.

Alívio. Em muitas ocasiões eu senti um certo remorso por criticar o Malafaia em suas incursões recentes pelo evangelho de mamôm. Havia em mim o sentimento e o desejo de que um dia, este que foi um grande pregador da Palavra de Deus viria recuperar seu centro, desligar-se deste processo enorme de vaidade que aflige os mega-pastores e perceber o erro em que se encontra.

Em outras oportunidades, recentes inclusive, encontrei qualidade em seu trabalho na defesa dos interesses da igreja, em especial na luta contra a aprovação da PL122.

Este sentimento acabou.

Ver o senhor Malafaia pedir uma semente de R$ 1.000,00 às pessoas na TV, mesmo àquelas que não podem arcar com a mesma, nas palavras de seu comparsa Murdock:

“Pode ser aquele dinheiro guardado para os estudos de seus filhos, a provisão de uma emergência, o fundo de aposentadoria, o dinheiro do aluguel...” Semeie para receber três bençãos em sua vida... etc. 

A mais insidiosa das bênçãos foi: Serão salvos os de sua casa. Os semeadores verão todos em sua casa serem salvos. Qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento bíblico reconhece a blasfêmia relativa a esta promessa vendida. Nem vou me estender aqui. Eu confesso que vomitei ao ouvi-la. Silas e Murdock vendem a SALVAÇÃO familiar!

Nem mesmo a igreja Católica e seus papas corruptos do tempo da pré-reforma ousaram tanto, quando muito vendiam indulgências válidas no PURGATÓRIO, local de purificação e sofrimento para os pré-salvos! Não tenho conhecimento que resgatassem pessoas condenadas... Nem mesmo os participantes das CRUZADAS contavam com salvação certa... apenas pontinhos, risos.

Mas Malafaia e Murdock são capazes de salvar a família inteira do NÉSCIO que lhes compre as sementes por R$ 1.000!

Então é isto, no meu entender: Malafaia, seja anátema e que Deus não permita que o tal clube de 1.000.000 de almas que ouviriam a “palavra’ de sua boca JAMAIS se cumpra. Pois o “evangelho” que este homem prega é falso e não salva ninguém, ao contrário, pode aprisionar nesta armadilha de sementes de dinheiro.

Maldito seja seu programa de TV, suas cruzadas e tudo o mais!

Que tipo de mensagem é esta que esta gente prega? Quem vai ao açougue se pretende comprar roupas? Pode alguém buscar qualquer coisa mundana e encontrar a Deus? O dinheiro, tanto mais? Enganem-se aqui e ali, mas certas coisas são tão claras. Ditas pelo próprio Senhor Jesus! Por que esta gente decide basear seu ministério numa filosofia que torna ainda mais difícil as pessoas receberem a Salvação? E isto tudo dentro da própria igreja de Jesus! Estes pregadores ajudam o seu rebanho a se libertar de sua escravidão às coisas do mundo para buscar a Deus, ou ao contrário, o que fazem é lhes ferrar ainda mais os grilhões na carne? Leiam Mateus 19!

Danilo Fernandes.


Sou HEREGE assumido! E daí?


Hermes C. Fernandes


Quer mesmo saber? Sou herege! E digo isso com o peito cheio. Se quiser, pode me mandar pra fogueira agora mesmo. Estou pronto a morrer pela mensagem subversiva de que sou portador. Mesmo porque, não valeria a pena viver por algo pelo qual não se disponha a morrer.

Minha heresia?

Discordar do que tem sido feito em nome da ortodoxia.

Meu problema não é com a ortodoxia em si, mas com a práxis dos hipócritas que vivem o avesso do que afirmam crer. Eles me dão ânsia de vômito.

Por isso, resolvi chutar o balde e assumir de vez a postura de herege.

Eles pregam a divindade de Jesus, porém tratam-nO como se fosse um empregadinho. Chamam-No de Senhor, mas exigem que Se lhes submeta, atendendo às suas ordens, determinações e decretos.

Ensinam a divindade do Espírito Santo, mas ridicularizam-nO com manifestações bizarras que não temem atribuir a Ele.

Pregam a salvação pela graça, e em seguida exigem que seus seguidores façam sacrifícios complementares para assegurar-lhes a condição de salvos.

Pregam que Jesus está às portas, mas levantam campanhas milionárias para construir catedrais suntuosas ou adquirir aviões, em vez de pregar a esperança de dias melhores e contribuir para amenizar as injustiças sociais.

Ensinam a generosidade só para colocá-la à serviço de sua própria avareza.

Cansei de fundamentalismo barato, intelectualmente preguiçoso, e ideologicamente comprometido com os poderes deste mundo. Cristãos que preferem ladear os poderosos, e desprezar os miseráveis e excluídos. Denunciam a pretensão socialista de que o Estado ocupe o lugar de Deus, mas fazem vista grossa ao Estado Neo-liberal que se presta ao papel de Diabo.

Prefiro a isenção profética! Não quero aliar-me a qualquer que seja a ideologia, pois todas são inequivocadamente imperfeitas. Prefiro ser porta-voz do Reino, a ser defensor de agendas ideológicas. Marx não me convence! Mas não será Olavo de Carvalho que me converterá ao conservadorismo. Não me curvo ao Estado, mas também não me prostro ante o Capital. Ambos são potencialmente ídolos. Ambos exigem lealdade absoluta, coisa que só devo ao império de Cristo.

Livre comércio? Sim. Mas não ao custo da justiça. Justiça social? Sim. Mas não ao custo da liberdade. Por isso, não sou nem socialista, nem capitalista. Sou mesmo um reinista.

Por favor, não me rotulem. Não sou penteca, mas também não morro de amores pelo tradicionalismo mofado que só serve ao orgulho denominacional idiota. Eu já disse e repito: Sou reinista! Só devo lealdade ao Rei dos reis!

Crer na contemporaniedade dos dons não me faz carismático nem pentecostal; crer na soberania divina não me faz calvinista; apreciar arte sacra não me faz idólatra, e negar-me a ajoelhar-me ante a uma imagem não me torna iconoclasta. Crer na intervenção divina em atendimento às nossas preces também não me faz um neo-penteca.

Se insistirem em me taxar, prefiro que me chamem de herege. Pelo menos serei identificado com os injustiçados, vítimas dos sistemas opressores que se arrogam detentores da verdade absoluta. Prefiro isso a ser identificado com os que oprimem, e em cujas mãos estão acesas as tochas da intolerância, prontas a atear fogo nos discordantes e rebeldes.

Se reeditarem a santa inquisição, a maioria dos líderes que explora seus rebanhos ficará de fora. E sabe por quê? Porque são todos ortodoxos e dogmáticos. Todos têm em comum a crença no concepção virginal de Cristo, em Sua ressurreição ao terceiro dia, em Sua ascensão, na Criação em sete dias literais, etc. Nenhum deles pode ser acusado de heresia. Eles até poderiam escapar ilesos das chamas inquisitoriais, mas duvido que escapariam de outra chama!

Prefiro ser torrado nas fogueiras dos meus detratores a ter minha consciência chamuscada pela culpa, e minha alma alvejada pelas chamas do inferno.

Sou herege assumido, e que não for... que acenda a primeira tocha!



Heresia, do latim haerĕsis, por sua vez do grego αἵρεσις, "escolha" ou "opção"

FONTE: Genizah - Por: Hermes Fernandes
Assinado embaixo por: Milson Costa


TRANSFORMANDO A igreja EM IGREJA




“Eu não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os no teu nome, o qual me deste, para que eles sejam um, assim como nós... para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um; eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim”.
João 17.11,21-23

Penso que as igrejas evangélicas de um modo geral vivem uma grande inversão de valores. Valorizam o periférico não o que é central. Valorizam a quantidade negligenciando a qualidade. Valorizam os programas e não as pessoas. Aliás, a maioria das vezes – mesmo dentro de algumas igrejas - as pessoas são valorizadas pelo que têm, não pelo que são...

É interessante pensar que a mais de dois mil anos atrás, Jesus não tinha distrações com o periférico. Sabia o que devia fazer. Jesus não tinha preocupação com multidão, muito menos com programas. Jesus preocupava-se com pessoas. Jesus tinha propostas do Reino, guardadas até hoje em seu Evangelho.

Dentre as muitas que Ele oferece, tenho pensado muito em me tornar resposta à Sua oração. Tenho sentido o forte desejo de viver e experimentar a Teologia de João 17: SERMOS UM NO PAI. Para que desta maneira, o mundo conheça Quem nos enviou, e no nome de Quem falamos. Imagino que para isso:

1. Já é hora de pagarmos o preço, qualquer que seja ele, de fazer parte de uma Comunidade Espiritual, e não de uma organização eclesiástica. Não podemos permanecer o resto de nossas vidas satisfeitos com crentes “obesos de teorias” e vazios de ideais. Precisamos transformar nossa igreja (instituição) em igreja (Comunidade Espiritual).
2. Já é hora de virarmos as cadeiras uns para os outros, e de deixarmos de viver uma comunhão cristã leviana e insípida; onde, não há preocupações e cuidados verdadeiros. Onde o “querido irmão” é só mais um rosto que nos habituamos a ver aos domingos.
3. Já é tempo de edificarmos a igreja, e transforma-la numa comunidade de pessoas que se refugiam em Deus e encorajarmos uns aos outros a jamais fugirmos em busca de outros socorros.
4. Já é tempo de nos tornarmos a resposta da oração de Jesus, e fazermos assim diferença no mundo onde vivemos. Compartilhando em nossa comunidade (a igreja que congregamos) a unidade o Evangelho transformador de Jesus Cristo.

Sei que esta proposta não é fácil de ser vivida. Sei também que com ela estaremos caminhando na contra-mão do que temos visto em termos de igreja; onde o que vale é o “ativismo desvairado” ou o “evangelho que distrai”. Mas estou convicto que é esta proposta de Igreja que encontramos nas páginas de nossa Bíblia
.


Milson Costa


É rir pra não Chorar...



"Cantar é também pensar”. Diferente do que rola por aí a fora. É claro que existem as exceções. Mas outro dia, o negócio foi muito cabuloso: O grupo de louvor começou a tocar e cantar: “incendeia Senhor a tua noiva, incendeia Senhor a tua Igreja...”. Em seguida cantaram a música “faz Chover”. Durante quase meia hora a mesma coisa: “faz chover, faz chover, faz chover...” Eu falei: - Agora vai sapecar tudo! Dito e feito. Adivinhem qual foi a próxima música? - “Eu não preciso ser reconhecido por ninguém”. A mesma que diz: “tua fumaça me esconde”. Não tinha como não relacionar com o efeito da chuva no fogo do incendeia.

Podia até ser cômico se o comportamento da turma não fosse também um reflexo do que a gente ouve e canta. E o pior é que tem muita gente assim. Gente nem queimada ou incendiada pelo “incendeia” e nem lavada pela chuva do “faz chover”, mas sapecada.

Não quero polemizar. Licença poética à parte, mas acredito que podemos ser mais coerentes acerca do que cantamos. Fico pensando nos "não crentes" que vão aos nossos cultos. Nós criamos um linguajar que só a gente entende. E às vezes nem a gente entende! A maioria já ouviu a união feminina cantar: “Quando cheguei aqui meu Senhor já estava, no meio da igreja ele passeava, quando eu cheguei aqui meu Senhor já estava..” Daí vem um irmão com aquele solo: “mas contempla esse varão que chegou agora abre a boca irmão e dê um glória...”. É confusão na certa! Eis a questão: - Já estava ou chegou agora?

Já aconteceu comigo também, numa dessas, rolando o “louvorzão”, eu lá na frente, nos primeiros assentos, e a banda tocando... Sei que mandavam a gente fazer um monte de coisa: Pé pra cá, pé pra lá, vem pra cá, vai pra lá, correm pra esquerda, correm pra direita, fala pra quem ta perto de você... E eu lá, todo tímido, quando ouvi, como que dito especificamente para mim: - Sai do chão, você é livre!!

Todo mundo vibrava e aplaudia. Eu não tenho problema com o agito (até gosto), mas só que nem sempre a igreja está sentindo o que o dirigente de música está sentindo naquele momento. Que fique claro a todos: Não vamos transformar ninguém, nem por força, nem por chavões e nem por "ginástica aeróbica gospel", mas é do Espírito de Deus, em nosso meio, este papel.

Foi muito bom ouvir naquele dia que eu sou livre, mas pergunto: - Por acaso somos livres, porque cantamos o que todo mundo está cantando? Somos livres porque fazemos os movimentos e gestos propostos pelos ministros de louvor? É possivel adorar a Deus em nossas igrejas, cantando, louvando, sem ter que de forçar um clima ? Sem ginástica gospel ? Sem caras e bocas? Ou está difícil?


Em Eliseu de Lima, divulgado no Genizah 

Silas e o Circo de Horrores do Ratinho
Assisti pelo Youtube à atuação do Pr. Silas Malafaia no programa do Ratinho recentemente. Como ele mesmo confessou, seu estilo é bem parecido com o do apresentador. Poderíamos até dizer que Silas é uma espécie de Ratinho Gospel.Não tem papa na língua e gosta de ver o circo pegar fogo.
O que achei? Sinceramente? Um desserviço à causa.

Primeiro: ali não era o lugar para se debater com seriedade um assunto tão complexo. A produção do Ratinho certamente escolheu Silas por saber de seu temperamento, ingrediente indispensável para um circo de horrores como o promovido pelo programa. Achei-o deselegante com sua oponente. Já tive a oportunidade de debater com ele várias vezes em duas emissoras no Rio de Janeiro. Ele não consegue se calar nem no intervalo. Sua fama foi construída em cima disso.

Apesar de polêmico (mais por seu temperamento do que por suas posições), Silas é extremamente conservador, e não consegue manter um diálogo em alto nível. Mas infelizmente é isso que o povão gosta.

Não consigo imaginar Jesus Se prestando a um papel desses. Jesus nunca bateu boca com ninguém. E Ele jamais participaria de uma campanha contra o direito de quem quer que fosse. O tipo de posicionamento defendido por Silas só faz aumentar o abismo entre a igreja evangélica e os homossexuais. Que vantagem há nisso? Como poderemos evangelizar um grupo contra o qual nos manifestamos? Em vez disso, deveríamos estar defendendo seus direitos, angariando sua simpatia e confiança, e assim, revelando-lhes o amor transformador do nosso Deus. Sem imposições, sem histeria, sem mania de perseguição, mas com mãos estendidas em vez de dedo à riste.


Quem, afinal, teria ganho aquele debate? É claro que a maioria do povo evangélico vai dizer que foi Slias. Mas sabe quem perdeu? Todos nós. Silas tornou-se numa referência caricata da igreja brasileira.

E o pior de tudo é que por trás de toda esta vociferação contra a PL 122 há uma não confessável intenção política. Os políticos evangélicos (que até agora não mostraram a que vieram!) precisam garantir a próxima eleição. Nada melhor do que tocar terror no povo, usando o tal projeto de lei como o carro abre-alas.

Essa estória de que as igrejas serão obrigadas a casar gays é conversa fiada. O mesmo projeto de lei é contrário a qualquer tipo de discriminação religiosa. Pode-se "condenar" a pobreza sem com isso discriminar o pobre. Pode-se "condenar" o alcoolismo sem discriminar o alcoólico. O mesmo se aplica aos homossexuais. Se um determinado credo reprova o comportamento homossexual, não quer dizer que seus seguidores discriminem homossexuais.

Que vergonha... deveríamos estar do lado deles, condenando a homofobia, e assim, escancarando a porta para que tivéssemos acesso aos seus corações. Em vez disso, colocamo-nos ao lado de seus algozes. A igreja cristã que produziu homens como Martin Luther King, Jr. que defendeu com o preço de sua própria vida os direitos civis, agora produz homens intolerantes que almejam, em nome de um projeto político, conduzir a igreja de volta à idade das trevas. Foi este tipo de posicionamento intolerante que provocou a morte das bruxas de Salém, a Inquisição, o Apartheid.

Infelizmente, nosso povo tem memória curta. Semanas atrás, todos repudiavam a teologia da prosperidade pregada por Silas ao lado de seu mentor Morris Cerullo. Agora, por uma causa com motivações duvidosas, Silas voltou a ser quase unanimidade entre os evangélicos.

Espero que o povo de bom-senso acorde para isso, reveja seus conceitos, e se posicione contrário a qualquer tipo de manipulação.


E o moribundo não se mexeu


Certo homem descia de Jerusalém para Jerico, quando foi assaltado, e surrado, e deixado para morrer, na beira da estrada.

Ele era sacerdote. Todos os sacerdotes e levitas o conheciam.

Jerico era o seu campo missionário, mas, naquele dia, ele foi impedido de chegar lá. E tudo indicava que jamais chegaria.

Casualmente, outro sacerdote descia de Jerusalém para Jerico. Tudo indicava que o sacerdote, em estado moribundo, estava salvo.

O outro sacerdote o reconheceu, mas evitou se envolver... O moribundo era tido como um bom sacerdote, mas, pensou o outro, essas coisas não deveriam acontecer a bons sacerdotes, logo, deve ter alguma coisa errada com ele. Mesmo assim, parou, mas, a distância... Se ele se mexer ou esboçar qualquer pedido de ajuda... Ajudo.

E o moribundo não se mexeu.

Nisso chega um levita, reconhece o sacerdote moribundo, todos o conheciam; conversa com o outro sacerdote, sobre o que poderia ter acontecido com tão bom sacerdote, ao que o outro sacerdote retruca, dizendo que, talvez ele não fosse tão bom sacerdote assim! Quem sabe o que teria acontecido? E sugeriu o que o levita o acompanhasse na observação... Se o moribundo se mexesse ou esboçasse qualquer pedido de ajuda... Ajudariam.

E o moribundo não se mexeu...

E eles se foram, comentando como as aparências enganam... As vezes a gente pensa que está diante de um grande sacerdote, e, sem o saber, está diante de uma vida cheia de complicações, que acaba por expor-se desnecessariamente, e aí, o inevitável acontece: é derrotado.

De fato, aquele sacerdote, deixado à própria sorte, era conhecido por sua fibra, já havia passado por poucas e boas, e resistido, não fazia sentido vê-lo em tal estado. A dupla de religiosos, também comentava isso. O que eles não sabiam é que o tal sacerdote, a exemplo do herói escocês, William Wallace, na versão cinematográfica Brave Heart, de Mel Gibson, fora atacado, e surrado, e deixado para morrer, por um amigo. William Wallace fora atacado, quando intentava contra o Rei da Inglaterra, Eduardo I, por Robert de Bruce, nobre que Wallace queria ver Rei, mas, que o traiu. O sacerdote, também, enquanto lutava contra o rei da maldade, um amigo o traiu.

O amor é mais forte do que a morte, mas, quando a morte coopta um amigo como seu agente, o amor frustado tira todo desejo de lutar pela vida.

E, por isso, o moribundo não se mexeu.

E veio um samaritano... Ele não sabia do sacerdote, apenas condoeu-se ao ver um homem à beira da morte, e correu para socorrê-lo. Chamou-o para atividades que não tinham a ver diretamente com a sua fé, mas que lhe permitiam vivê-la e anunciá-la. E ele desistiu do sacerdócio, embora, mantivesse sua fé e sua vida na comunidade. Mas ele não queria mais estar no mundo dos sacerdotes.

Entendeu que nessa nova ordem sacerdotal não havia espaço para a simples amizade.

Para essa nova ordem, ser amigo é arriscar-se muito.

Bem, essa verdade é milenar: ser amigo é arriscar-se!

Porém, na nova ordem, ninguém quer correr risco.

Todos estão prevenidos: é melhor evitar do que remediar.

A dupla religiosa que o havia deixado ao largo, comentou o fato com outros religiosos, eles, amigos, ainda que com alguma dor, resolveram, também, evitá-lo.

Parece que alguns sacerdotes estão repensando, mas, pode ser muito tarde, o nosso sacerdote está cada vez mais propenso a só andar com samaritanos.

Por: Ariovaldo Ramos


Um remédio chamado hipocrisia

João Batista era um tipo de profeta enfático e duro com as palavras. E tais palavras, obviamente, incomodavam e despertavam 3 tipos de reações. Indiferença, ódio e arrependimento. Curiosamente não há muitas referências aos indiferentes na narrativa dos evangelhos. Estes eram considerados simplesmente como “as ovelhas perdidas da casa de Israel”. Já os que odiavam os discursos do profeta, ah… estes possuem participação ativa na história; e possuem um lugar “bem quentinho” reservado na eternidade. Mas o grupo que mais se assemelha aos cristãos do presente século é o terceiro tipo. Pessoas arrependidas… que podem não ser necessariamente salvas.
A expressão utilizada por João para confrontar a tais pessoas era “raça de víboras”. Particularmente considero esta expressão muito mais dura do que o “idiota” que usei recentemente em alguns textos e, por isso, recebi trocentas mensagens de repúdio ao meu linguajar. Mas voltando ao assunto… parece que o texto bíblico não se importa com a dureza do profeta. Afinal, todo aquele povo não passava de um bando de cobras. Bicho bonitinho… e traiçoeiro.
O motivo pelo qual os arrependidos daquela época foram confrontados é bem simples. Faziam questão de batizar-se mediante a confissão de seus pecados. E, voltando à realidade de suas vidas egoístas e totalmente longe dos preceitos da justiça de Deus, necessitavam retornar ao rio Jordão para novamente serem batizados mediante a demonstração de arrependimento.
Como João Batista não era besta, ferozmente alertou àquelas pessoas que a única maneira de fugirem definitivamente da ira vindoura era PRODUZINDO FRUTOS DIGNOS DE ARREPENDIMENTO.
E eis a questão que continua a soar como condenação a toda uma geração.
Mudamos a figura do profeta pelo pastor do domingo. E semana após semana, o arrependido recebe a oração em um momento de grande contrição. Pena que, devido à ausência dos frutos de arrependimento, nem o infinito de orações de fim de culto serão capazes de transformar este pecador safado em um pecador genuinamente salvo.
E, obviamente, se temos que lidar com uma geração contaminada com tais preceitos, quem serãos os responsáveis senão nós mesmos que semeamos as devidas sementes equivocadas?
Somos os mestres em ouvir discursos maravilhosos, concedidos aos nossos ouvidos através das palavras de tantos homens em nossa geração. E como as coisas mudaram! Há dúzias de bons cristãos, gritando a verdade das mais diversas maneiras.
Mas preferimos continuar em nossa caminhada mesquinha e egoísta. Passando na drogaria mais próxima antes de cada momento de confronto; adquirindo e se entorpecendo com o remédio chamado hipocrisia. Pois só assim conseguiremos aplaudir aos homens de Deus; e em seguida voltarmos aos nossos próprios interesses.

Pregadores da minha geração… gritem!

Cristãos genuínos que aindao respiram… procurem uma maneira da verdade transformar-se em FRUTOS DIGNOS.

É nossa responsabilidade.

“Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” (Tiago 2:18)

Por Ariovaldo Jr.


Quando as máscaras caem...
Hermes C. Fernandes


Estamos a poucos dias do Carnaval, a festa da carne. Geralmente, acredita-se que é durante esta festa pagã que as pessoas se encondem atrás de máscaras e fantasias. Porém, acredito que o contrário é que se sucede.
Durante os dias de folia, as pessoas tiram as máscaras usadas durante todo o ano, liberando seus desejos ocultos, e revelando suas mais arrojadas fantasias. Por alguns dias, o chefe de família remove a máscara de autoridade, e cai na gandaia. A dona de casa reclusa e tímida se desfaz do papel que representa e se solta na avenida.
Como dizia o Tim Maia, vale tudo! Tudo em nome do prazer, da alegria, ainda que ao término da festa só sobrem cinzas. O problema não é o Carnaval em si, enquanto festa popular (mesmo que sua origem remonte os bacanais e saturnais romanos). O problema é a natureza humana corrompida. O que o Carnaval oferece é o ambiente propício para que esta natureza se revele sem qualquer pudor.
Sinceramente, o que mais me incomoda não são as serpentinas, lantejolas, pouca ou nenhuma roupa dos foliões. O que mais me incomoda são as máscaras usadas ao longo do ano. Há pessoas que conseguem viver mascaradas por anos, sem que ninguém perceba sua hipocrisia. Porém um dia, por descuido, a máscara cai.
São Paulo diz que para que sejamos transformados pelo Espírito de Deus, temos remover o véu que cobre nossa face, e nos expor tal qual somos.
A religião é uma fábrica de máscaras. Pior do que os bate-bolas das ruas, são os bate-bolas dos púlpitos. Aqueles que cativam as pessoas pelo medo, pelo terror.
Deus, porém, conhece a pessoa por trás da fantasia. Ele não se impressiona com nossa atuação, quando fazemos do púlpito nosso tablado. Ele sabe exatamente as intenções por trás daquela voz grave, do emocionalismo barato, do sensacionalismo canibal.
Nenhum cristão está autorizado por Deus a julgar foliões. Em vez de dedos a riste, estendamos as mãos, e apresentemos a eles uma alegria que nunca termina, e que jamais resultará em cinzas.

"Venha como você está"

“Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus.” (Salmos 9:17) Os estudiosos e sociólogos dizem que hoje nós vivemos num período de experiência pós-moderna. De fato, convivemos com tecnologia avançada, globalização, comodismo (em todos os aspectos), e por aí se faz uma grande lista que, talvez amanhã já deva ser atualizada. Mas se pararmos pra pensar, como vivemos, pensamos e agimos hoje é, nada mais, nada menos, do que um seqüela da maluquice cultural e histórica que explodiu em nosso país, especialmente nas décadas de 60 e 70. Vou explicar…
Nos anos 40, em torno de 70 % dos brasileiros moravam na área rural, não havia sequer uma indústria de automóvel e as residências ainda não tinham televisão. A família brasileira era extremamente tradicional e conservadora. O desquite era motivo de preconceitos e vergonha. O racismo não era motivo de debates, porque o negro brasileiro não desenvolvia movimentos sociais.
A estrutura social era marcada pelo coronelismo. Nos anos 50, a liberdade começou a ser idealizada, pelo menos politicamente falando. A população deixava os campos e migrava para as grandes cidades e nelas se desenvolvia as artes, o turismo, a indústria naval e o petróleo. Quanto à família, ela ainda continuava tradicional e o seu padrão comportamental era ter filhos. Já os anos 60, foram anos de muita agitação, de liberdade, da descoberta da pílula anticoncepcional. Anos do movimento hippie. Embora a década de 60 ter sido para o Brasil, anos de ditadura e de censura, por conta do golpe militar, houve certa movimentação cultural e musical com a Jovem Guarda, a MPB e o Tropicalismo. E, por fim, falando da década de 70, anos estes em que as músicas exaltavam o país, tais como “este é um país que vai pra frente e ninguém segura a juventude do Brasil”.
O futebol esteve também em pauta contribuindo para a alienação do povo (não sou contra o futebol, mas naquela época o esporte serviu de escape para as grandes transformações e crises enfrentadas pelo país). Depois das torturas, dos exílios, de tantas prisões, e censura os anos 70 também vivenciaram o fim do Regime Militar e o ressurgimento dos movimentos sociais. Foi também nessa época em que se instalou o caos familiar e os crescentes índices de divórcio. A descoberta sexual na adolescência significou o amor livre no fim dos anos 70, o herpes em 1980 e a AIDS em 1990. Mas pra quê tantas informações históricas? Agora sim, vou dizer onde quero chegar. Se a Igreja está alcançando pessoas comuns com menos de 40 anos, então é muito provável que: uma em cada três mulheres tenha feito um aborto.
Uma ou até duas em cada seis podem ter sido abusadas sexualmente. Mais de seis dentre dez pessoas pensam que viver junto, em vez de casar, é uma maneira inteligente de evitar o divórcio, e cinco dentre essas dez pessoas já viveram com alguém. A maior parte é sexualmente ativa. E a grande maioria dos homens deve lutar contra a pornografia ou problemas sérios em relação à luxúria. Uma em cada cinco a dez pessoas luta contra o uso excessivo de drogas ou álcool. E pelo menos uma, e até duas, em cada cinco talvez fume. Resumindo: se a Igreja pretende trabalhar com a nova geração, então ela precisa criar uma cultura onde pessoas totalmente desajustadas sejam bem-vindas! Isso é um fato! Todas essas mudanças históricas e, principalmente de comportamento criaram uma CULTURA DE SOLIDÃO, onde as pessoas estão totalmente CARENTES DE RELACIONAMENTOS GENUÍNOS.
As pessoas almejam hoje, como nunca antes almejaram estar em família, pois ela representa o autêntico apoio relacional para qualquer ser humano. E o desafio para a Igreja do século XXI é exatamente esse: deixar de ser uma “igreja para visitantes” e passar a funcionar como uma família, um corpo bem ajustado, assim como ordena a Bíblia. Estratégias como boa música, teatro, cafezinhos são importantes sim, e até atraem muitas pessoas, mas tem pouca relação com o culto em si, pois mantê-las em unidade e levá-las até Cristo são responsabilidades que Deus deu a nós. Não há desafio e oportunidade maiores para a Igreja do que lidar com os esmagadores sofrimentos emocionais que conduzem nossa geração. É responsabilidade nossa criar uma nova cultura do tipo “venha como você está”. As pessoas não resistem à verdade; elas resistem à arrogância! Por isso devemos ser sábios e muito amorosos ao representar o Corpo de Cristo no mundo.

Kênia Siqueira